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Olhares de Isabel Curado
Abertura da Exposição "Olhares" de Isabel Curado.
Com a presença da Artista Plástica.
Óleo sobre tela
A obra da Isabel Curado tem para nos oferecer, na sua fragrância absoluta, um generoso ramo de margaridas acabadas de apanhar nas veigas de Samões, ou para nos fazer espraiar os olhares pelo mistério de cidades (in) visíveis, a lonjura de uma abstracção alegre e pueril que só pode ser desejo utópico de uma autêntica dessacralização do real, deste pobre, obsceno e urbaniforme real que nós, pobres herdeiros citadinos de Sísifo, somos obrigados a carregar o rochedo absurdo. Pelo meio de telas onde perpassa a dor, a raiva incontida do mar revolto e de imensos vulcões, qual deles o mais enfático e dramático, há labaredas de uma aparente contemplação serena, de confronto metafísico com o "tic-tac" do relógio de sala da nossa infância. E dos seus palhaços grotescos, dos seus temores, inquietações e assombros. Por lá andamos, meio perdido, a pairar nos sótãos mais recônditos, a remexer nos baús de um tempo que foi todo nosso e que agora bem nos dói na sua avara escassez. Mas, enfim, os lugares da aldeia perdida nos meandros das estradas infinitas e cinzentas, por entre montes sempre cinzentos, mesmo quando cheios de pássaros e de flores. São espaços pormenores, fixações obsessivas, mas serenamente lúcidas, de aguarelas que mais parecem música vertida directamente da paleta de um instrumento solitário para o nosso ouvido/olhar gulosos: sobreiros centenários, ruelas, casas graníticas ou xistosas, templos onde a vida abreviada dos velhos habitantes se vai "ladainhando". Sempre no meio das pedras, dos astros, da crispação do sol, dos ventos e das chuvas. Lá onde os elementos cósmicos são mais visíveis e inclementes, mas muito mais autênticos, há um Trásos-montes a nascer na alma poética e artística da minha amiga Bé, quer dizer, na sua alma toda, de uma transmontana adoptiva e algo "tardia". Mas é aí, seguramente aí, com as pinceladas telúricas, excessivas, atrevidas e quentes de um pôr-do-sol, acolitado por uma imensa sinfonia de pássaros, é aí que se realiza, em estesia, a plenitude do Sonho.
José Meio
Estar só numa pintura de Isabel Curado é caminhar sem rumo, esquadrinhando a indiferença de um ermo monte, em fuga urgente aos olhares desmaiados e tangentes de ombros embrutecidos. E depois, na inerte nudez de um tronco de árvore, guarnecer o aconchego em matizes quentes, como o abraço dos longos braços de um pai. Confronta-se a ausência dissimulando a vida, no recreio de uma escola, na esquina de uma cidade, nos que passam e não nos vêem... até acordarmos, e percebermos que estamos sós.
A vista alcança a mudez do horizonte, percorrendo caminhos em origem e sem destino. Torna-se leve o respirar. Suave, como a doce expectativa de um bocejo matinal. E tornamo-nos únicos no sorriso da manha...
lvar Corceiro
A propósito do quadro
À espera do marido
De forma indecifrável, arquitectou-se no peito desta mulher um espaço para acolher o ser bem - vindo da espera. Há um apelo surdo e palpitante, ao ritmo do seu coração, lançando um chamamento repetido e longo, que serve de guia a esse viajante de parte nenhuma. O qual, no entanto, lhe preenche os côncavos (e a invenção) da paixão.
Ainda longe, o homem tisnado caminha em passos langorosos e inevitáveis que, porém, não parecem querer puxá-lo para a frente. Vem dum algures com nomes femininos, de cheiro a @as. Nomes que ela, sua mulher, que andou a subir com ele montanhas geladas da vida, mas também com algumas árvores, não quer saber. Prefere ficar assim, a parecer-se como umafruta amarela cristalizada e texturada, até ele aparecer, sabe-se lá quando e como...
Entretanto,oturbantedealgodãoprotege-lhe acabeça,onde crepitam pesadelos suaves. Os olhos filtram esses filmes da mente se nos pusermos à frente daqueles, podemos ver não as imagens, mas a alquimia do amor, suas metáforas e, com sorte, a transfiguração das nossas próprias e inefáveis esperas, autênticas obras de arte.
Aveiro, Abril de 2004
Teresa Soares,
Docente – Universidade de Aveiro
(Comissão Cultural da Universidade de Aveiro;
Membro do Conselho Consultivo da Unesco)
Isabel Curado
Nasceu em Fories (Viseu) em 1951 e é mãe de quatro filhos. Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e professora do ensino secundário desde 1 972. Experiência pedagógica abrangendo desde o trabalho com crianças surdas-mudas
(1 975) à colaboração na realização do Festival Nacional de Arte Infantil em 2000. Ao mesmo tempo dedicou-se à ilustração de livros didáticos e infantis.
Membro da direcção de Centro Experimental de Teatro de Aveiro (CETA) desde 1987 a 1 99 1. Inúmeras actividades no âmbito do teatro, entre 1970 e 1993, incluindo representação, produção, cenografia, figurinos, cartazes e ilustração. Cofundadora do Grupo Poético de Aveiro em 1994. Como membro organizadordo Movimento Democrático das Mulheres (MDM) realizou, entre outras iniciativas, um tribunal de opinião sobre 'A prostituição Infantil e juvenil no Distrito de Aveiro" em 1990.
Exposições individuais
- 1992 GaleriadoTurisrnoemViseu
- 1992 Galeria22emViseu
- 1991 CaldasdeFelgueira
Exposições colectivas
- 2004 Encontro Internacional de Poesia e Pintura. Navio dos EspelhosemAveiro.
- 1997 Colectiva de alunos da Faculdade de Belas Artes do Porto no Castelo devilada Feira.
- 1995 Bienal do Avante.
- 1995 Colectiva "Quatro Mulheres" na Galeria Municipal de Aveiro
- 1994 'Aveiro Arte" na Galeria Municipal deaveiro.
- 1993 Bienal doavante.
- 1987 Colectiva na Fundação Copertino de Miranda no Porto.
- 1979 " Um Grupo de Artistas do Porto" em Braga.
- 1978 Colectiva de Escultura, "Estruturas em Metais", em Matosinhos.
- 1977 colectiva com os alunos da Escola Superior de Belas Artes do Porto em Braga.
- 1973 Colectiva'Artes de Fogo" na Escola preparatória Gomes Teixeira no Porto.
Local: O Vitória Pub
Horário: todos os dias das 13:00h às 02:00h